sexta-feira, 11 de junho de 2010

A copa da África do Sul

A copa da África do Sul é a copa do sonho de um povo sofrido, pobre, lutador.


A copa da África do Sul é a copa do Mandela e de todos aqueles guerreiros que, com armas ou sem, defenderam seus ideias de liberdade e justiça social.

A copa da África do Sul é a copa verde-amarela, a canarinha e a dos bafana-bafana.

A copa da África do Sul é a copa do simbolismo.

Mas a copa da África do Sul é, claro, a consagração do maior esporte de massas do mundo, o futebol.

A copa da África do Sul é a copa da volta por cima.

Mas a copa da África do Sul também é a oportunidade em que os olhos do mundo estarão voltados 24h por dia a quem sempre foi esquecido pelo resto do tempo: o povo negro.

Aos olhos fortes e vivos dos sul-africanos, a copa da África do Sul é a realização de algo quase ou tão importante quanto a luta contra o aparthaide.

No semblante de cada cidadão sul-africano, a copa da África do Sul representa alguns segundos a menos a pensar que seu pai, sua filha, seu irmão, deverão morrer ou já morreram por conta da AIDS.

No sorriso de cada sul-africano, a copa da África do Sul é a esperança de que, durante um mês, os conflitos religiosos, etnicos ou, sobretudo, os pela corrida das armas sejam postos de lado.

Na dança malemolente de cada sul-africano, a copa da África do Sul é a lembrança de que os povos, quando se unem pela mesma causa, sempre fazem imperar a paz.

No drible, semelhante ao nosso, dos sul-africanos, aquele sapeca, faceiro, ligeiro, a vontade de, ao menos desta vez, chegar à final da copa dentro de seu quintal.

Na curiosidade esperta das crianças sul-africanas, a copa da África do Sul é, como o é para as brasileiras, a perspectiva e o sonho de um futuro melhor fora da miséria, da pobreza absoluta, da marginalidade ou da guerra, cada qual com sua particularidade mas ligadas entre si.

Por último, mas tomara que nunca por fim, na consciência de cada sul-africano a copa da África do Sul guardará vivo em sua memória o sentimento de que, durante ao menos um mês, a população mais invisível do mundo teve no esporte mais popular a felicidade que deixará como legado a todos seus irmãos da terra. E sem distinção de cor.

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