sábado, 4 de setembro de 2010

Eterna como dizem da alma

Na mente tudo é sondável, variável, volátil. Na vida tudo passa, segue, anda como tem de andar. Os segredos se perdem; os desejos se vão; o amor chora, limpa suas lágrimas e está pronto para chorar de novo.
As lembranças boas ficam na memória, as más são deixadas de lado como música ruim. A história de amanhã nem sempre é a mais nova; um futuro próximo do qual nada sabemos, mas tentamos imaginar. A eternidade dura até que venham outras. Igual a um passageiro sem destino a esperar pelo próximo trem para lugar algum.
Há, porém, algo na vida que tem o poder de eternizar momentos; tanto aqueles que queremos guardar para toda a vida, quanto os que guardamos em lugares escondidos para que não mais sintamos a nostalgia do tempo que passou.
Às vezes esses momentos vão parar em gavetas empoeiradas, em álbuns velhos, já quase sem face. Mas quando são descobertos, muitas vezes anos depois, se tornam novamente o presente. Esse talvez seja um bom ponto de vista sobre a fotografia. Afinal, são as interpretações da realidade que fazem da fotografia uma expressão artística única, mas nunca a mesma.
Por mais que o tempo passe, e as eternidades se percam, sempre que temos oportunidade de apreciar uma imagem, que teve a honra de ficar paralisada um segundo, ela resgata-nos o presente, nem sempre feliz, mas sempre fiel, ao contrário da nossa memória, que nos trai o tempo todo.
São os instantes congelados por olhos mágicos e lentes atentas. Percepções que vão além do mero fitar alheio. Visões que compõem o ideal de um tempo, de um mundo, de um quarto, de uma particularidade universal, ou de um simples momento aparentemente sem sentido.
Aproximam e afastam paixões; transformam segundos em séculos; capturam pensamentos e os fazem virar realidade palpável.
Uma arte sem explicação; como se arte precisasse e pudesse ser explicada. Apenas se observa, se analisa, se sente e, depois, revelam-se momentos indefiníveis. Muitas vezes os olhos vencem os dedos. O mesmo dedo que poderia dar um simples clique na câmera se torna paralisado.
Porque os olhos não os deixam fazer movimento algum, querem apenas guardar aquele momento na memória, são egoístas e desejam aquele momento só para eles, sem a presença das lentes. Daí que entra a experiência de quem pratica a arte de fotografar: conseguir comandar as mãos; fazer com que os olhos obedeçam é talvez um dos maiores desafios dessa profissão e só se chega lá no dia a dia.
A relação do fotógrafo com a fotografia e com a sua câmera é uma relação de amante, de adorador, de admirador, de artista; é algo íntimo, terno e por vezes conturbado.
As cores são importantes; todas elas. Às vezes duas delas bastam; e muito. Para os desavisados, a fórmula pode parecer simples: um olhar e um movimento das mãos. Para estes, talvez seja.
Eles certamente não veem que as flores dizem algo. Que as árvores contam segredos dos ventos. Que o céu por vezes cinza tenta esconder a vastidão do sol. Que aquela criança a dormir, com sua inocência sonha em acordar num mundo melhor.
Para estes que não veem nada disso, o dia é somente mais um dia; a noite é apenas uma noite. Sequer se dão conta de que a noite mostra luzes que nem ela mesma, de tão escura, é capaz de ver. Cria cenários sombrios e belos só para tentar nos enganar. E, do outro lado, aquela esfera tão grande e tão brilhante quanto, desnuda o que sua irmã quis camuflar, mas não conseguiu.
Tudo o que a terra nos presenteia é o que há de mais singelo. A complexidade, a simplicidade e a beleza criam o paradoxo, fazendo com que sejamos seres às vezes bons, às vezes maus, mas sempre humanos.
A vida, no entanto, esperta que é, resolveu proporcionar à terra olhares misteriosos e reveladores; olhares que dão a toda essa poesia visual uma imensidão que talvez nem mesmo o seu criador, num dia mais inspirado, pudesse prever. E se tivesse previsto, mesmo que por um instante, lhe daria, sem dúvida, o nome de fotografia.

Texto escrito a quatro mãos pela Nanda e este que vos escreve.

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