segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Madrugada saudosa

Madrugada cálida. Janela aberta. Os únicos sons vêm de rodas que teimam em queimar o asfalto negro como a noite. As luzes são amarelas alaranjadas. O trem que cruza a cada meia hora corta o silêncio dos pássaros dorminhocos; os poucos que devem dormir por aqui. O sono aparentemente consome a vizinhança, que parece fazer companhia à parte mais velha da cidade. O novo está pra outros lados, bem longe dessas bandas. O céu é o mesmo de sempre. Algumas estrelas apenas piscam; tentam provar que estão vivas. Duas pessoas aparentando meia-idade caminham. Passos tétricos as levam devagar. Não se sabe se cansadas pela idade ou pela noite que as consumiu. Talvez queiram juntas ver o sol nascer daqui a pouco. É possível ouvir o barulho dos sapatos. Nem um cachorro os acompanha. Uma sincronia típica dos bailarinos. Vão ficando mais distantes. Não é mais possível vê-los. Pelo som, um portão enferrujado é aberto. Ouvem-se sussurros. Silencio. Sussurros. Uma porta se fecha. Os passos retornam. Mais fracos. O som dos pés tocando a calçada não tem mais ritmo. A dança deve ter chegado ao seu fim. A única pessoa que volta, um homem, parece cavalheiro. Deixa a amada em casa e agora deve ir pra casa sonhar. Paixão à antiga, daquelas que não se veem mais. O samba que cantarola também: “Saudosa maloca, maloca querida”.

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