sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Máscara sem rosto

E a solidão mais uma vez me consome. Leva com ela tudo o que eu já não tinha. Pressente a imensidão de nada dentro de mim. É ridículo pensar que algo não tem fim. Se até o que existe acaba, imagine aquilo que é transparente, que não se enxerga, que não se toca, que não se sente.
Ainda guardo um suspiro. Nunca é o último. Esse guardarei para quando meu corpo começar a cheirar mal, quando realmente estiver solitário e com algum sentido. A morte talvez seja a melhor forma de estar sozinho e sem culpa. Ninguém perde, ninguém ganha, ninguém atira a última pedra.
Mas o problema é morrer estando vivo. Não é uma questão de opção. A gente caminha, fala, chora, grita, mas não existe mais. As pessoas até lhe veem, escutam-lhe, fingem que se importam. Mas você está ali, fazendo de conta que o ar que supostamente respira também supostamente ainda enche seus pulmões. O coração todavia bate. Ou talvez seja apenas mais um órgão que esteja a mexer-se dentro do seu corpo. Como todo o resto.
Odeio cultos demasiados à vida ou à morte. Simplesmente se vive ou se morre. De vários jeitos. Entenda como quiser. Seja uma ou outra, essa é a própria, é a da maioria, é a sua, é a minha. Sei que tento enganar o curso natural das coisas. Não é pra menos: ele insiste em me dizer o que fazer. Cansei de esconder a felicidade dentro do bolso. Confiei demais nela; ao me decepcionar, passei a ter de camuflá-la.
Para sairmos juntos, agora visto-lhe todos os dias uma roupa colorida; ela acha que voltou a ser o que era antes, eu também. Somos amigos agora; mentimos um para o outro.

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