sexta-feira, 7 de maio de 2010

Do tédio à alegria

A forma vertical do sol refletia na parede esquerda do quarto e dava-lhe a impressão do início da manhã. Mais uma. Os pardais, muitos, cantarolavam, mas eram abafados pelo barulho dos carros. O velho relógio de metal no canto do bidê fazia tic-tac, tic-tac...marcava seis horas.
A rotina enfadonha a obrigava ao ofício. Ela procurou debaixo da cama os chinelos de cor rosa, colocou-os, ajeitou o chambre carcomido e levantou-se. Espreguiçou-se até atingir a envergadura de um arco. Realmente estava cansada. Queria permanecer deitada por dias, mesmo que acordada. Incomodava-a, isso sim, o pensamento de estar no mesmo lugar, com as mesmas pessoas, há 20 anos.
Olhos entreabertos ela enfim deu alguns passos. Não acreditava que mais um dia o mundo havia de tirar-lhe o prazer de estar consigo mesma. Sozinha, mas preenchida de si. Próxima à janela ouviu lá fora um guri que gritava com a voz já rouca pela insistência: - “O Dia, O dia”, edição de domingo....

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