segunda-feira, 17 de maio de 2010

O cinema, a pirataria e suas nuances

Como sou fã de filmes (de preferência não-hollywoodianos) estava eu a baixar da internet - pirata, é claro – o comentado Meu nome não é Johnny. Esperei a tarde toda na ânsia de ter o que fazer de noite, em Bagé, “num belo dia de janeiro e de calor”.


Umas seis horas depois, qual foi minha surpresa: em vez do filme, um show do Calypso ao vivo, sei lá onde no país. Que m. , disse, em voz alta. Mas aprendi uma coisa com este episódio. Não, não pense que foi que pirataria é crime, isso eu já sabia. Percebi, sim, que devo ver parte do filme antes de baixá-lo todo. Além do que não me considero um pirata. Não vendo os filmes que baixo; no máximo, os empresto aos amigos. Ou seja, não ganho dinheiro com isso. Pratico o amor à sétima arte. Digamos que eu promova a minha boa cultura e de alguns de meus semelhantes.

Tem gente que se diz amante do cinema – ouço isso aos montes – sem nunca ter se deleitado com Bergman, Antonioni, Pasolini, Bertolucci, Godard, Oliver Stone, Tarantino, Coppola, Sergei Eisenstein, Almodóvar e etc. Mas tudo bem, não os recrimino. Reconheço que a força da mídia hollywoodiana bate qualquer outra do mundo no que se refere à divulgação de suas produções.

As pessoas, no final das contas, se acostumaram a ver tudo mastigadinho, com roteiros estritamente lineares, isto é, o corriqueiro início, meio e fim, tal qual o conhecemos. Também não raro escuto um “não gostei daquele filme, não entendi nada”.

Claro, quando a história é boa, a filmagem, edição e outras coisas são pouco convencionais – casos destes diretores que citei e tantos outros – a obra, para eles, torna-se chata. Pessoal, filme bom é filme que se vê várias vezes, filme em que é preciso usar a cuca, nem que pra isso seja necessário ouvir as explicações do diretor ou mesmo ler algo sobre a história. Fugi um pouco da pirataria pra fazer esse adendo. Volto a ela, portanto.

Eu recorro à pirataria pelo simples fato de não conseguir o que quero aqui na cidade, a não ser por estes meios. Vá numa locadora e peça, por exemplo, 8 e meio, um dos maiores clássicos do Fellini. Cem por cento a resposta será: “Não tem”. Isso se tiver sorte, porque provavelmente o atendente nem saiba quem é Federico Fellini. Mais do que apenas uma crítica a quem trabalha no ramo, trata-se de uma cultura mundial e, especialmente, local.

Como disse o grande Carlos Gerbase, cineasta gaúcho, quando da morte ano passado de dois mestres: “O cinema é entretenimento, mas com Bergman e Antonioni é arte”. E tenho dito!

Texto escrito em janeiro de 2008.

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