terça-feira, 18 de maio de 2010

Inseguro em ti

Estou inseguro. Estou a me procurar todos os dias em frente ao espelho. Meu reflexo já não me satisfaz mais. Tenho uma cara cálida e branca. Uma face antagônica. Estou perdido. Não quero saber onde estou e nem o que sou. Tenho medo de achar alguém que talvez já tenha sido alguma vez. Coisas iguais.


O novo me atrai. Vou me cortar em pedaços. Quem sabe assim faça uma nova identidade. Quem sabe assim minha foto não reflita a mesma imagem do espelho de ontem. Vou comprar um espelho novo; vou pintá-lo de preto.

Preciso de um abajur a meia luz. Uma fotografia com tons felinianos. Meus cabelos castanhos em forma de contorno. Teu corpo reluzente a encontrar minha silhueta forte e rígida. Teu sexo úmido a esfregar-se em minha coxa.

Somos dois humanos do acaso. Momentos sem obrigação de se repetir. Amor em seu menor formato. Como as migalhas espalhadas do meu espelho velho. Pés descalços deixam rastros de sangue. As marcas vermelhas no chão, uma ao lado da outra, são o nosso pacto, nossa impressão digital. A prisão mesmo antes do crime.

Não podemos nos permitir isso. Somos livres, você e eu. Temos de ser iguais àquele passarinho no parapeito da janela a nos encarar. Ele vai e vem e nem nota nada. Não percebe o suor dos meus poros a se misturar com o seu. Ocasionalmente nos tornamos um, sem abrir mão da individualidade.

A dualidade de um lado só. Sem cara e coroa. O clichê biológico da espécie. A necessidade com consentimento. Às vezes, sem. Às vezes, tem. O drama. A cama. Os lençóis sujos com o liquido escuro. Sequer bebemos vinho. Deleitamo-nos até o despertar dos curiosos. A vaidade vista como sinal de arrogância. Os simples fitar da inveja ao lado. Calo-me. Dispo-te. Mais uma vez. As mãos agora percorrem de cima para baixo. Chegam ao teu ventre. Misturam-se ao viscoso liquido que jorra em dois tons. Não há nada alheio. É um jogo cínico. Duas mentes de um ato épico. A última vez que te sinto. A última tela que pinto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário