segunda-feira, 17 de maio de 2010

Retrato de um forasteiro

Um forasteiro que visitasse Bagé há dez anos, no ano da graça de 1998, com certeza se faria algumas perguntas sobre a cidade: Onde está a cidadania das pessoas? Como as crianças estudam em escolas tão precárias? Como as pessoas vivem com esgoto a céu aberto e sem iluminação? Por que existe tanta gente passando fome? Por que a cidade está tão suja? Isso sem falar em outras dezenas de questionamentos. Provavelmente, este mesmo forasteiro, se quisesse aprofundar sua visão, procuraria a voz do povo. Indignado com o descaso, ele ouviria que a cidade havia sido esquecida há tempos por seus governantes.

Ele iria embora com a idéia de nunca mais voltar. Mas dez anos depois, no entanto, em 2008, o forasteiro, ainda com aquela imagem povoando sua mente, ao lembrar-se daquela cidade relegada à chaga, resolveria visitá-la novamente para ver se as coisas haviam mudado. Porque a recordação de um povo esquecido, jogado à própria sorte, ainda lhe inquietaria.

Ao chegar de novo ao que havia considerado na época uma pintura de Modigliani sobre o brutal retrato da Primeira Grande Guerra, ele se surpreenderia. Teria, à primeira vista, a impressão de não se tratar do mesmo local onde estivera uma década atrás.

No mesmo trajeto que fizera, ele depararia com outra realidade: a cidade ficara alegre, colorida, iluminada, tinha escolas novas, que davam aos alunos duas refeições por dia, havia postos de saúde novos, prédios históricos reformados, ruas asfaltadas, programas sociais, educacionais, culturais e de saúde. Tudo lhe faria saltar os olhos.

Espantado, não acreditaria: praças novas eram utilizadas por famílias inteiras; programas davam oportunidade a que idosos praticassem esportes; os agricultores do interior não precisavam mais abandonar o campo - eles haviam recebido casas e condições dignas para permanecer trabalhando onde tinham vocação -; milhares de jovens cursavam uma universidade pública e outros se qualificavam em cursos técnicos; mulheres também deixavam de ser apenas “do lar” e passavam a chefiar suas famílias e a obter renda; milhares de pessoas recebiam dignamente e de direito uma renda básica mensal; centenas de famílias conseguiam comprar casa própria; a população ganhava atendimentos de urgência e emergência em suas casas.

Cético sobre o que sua visão lhe proporcionaria, ele procuraria um cidadão qualquer andando pela cidade, a quem perguntaria: O que houve aqui? Quem, por milagre, havia conseguido fazer isso? O cidadão lhe responderia, sem tergiversar: - Foi o PT. E o senhor não viu nada, ainda têm mais - concluiria o cidadão.

Texto escrito e publicado no jornal do Partido dos Trabalhadores em março de 2008.

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