segunda-feira, 17 de maio de 2010

Loucuras de um gênio

Terminei de ler, pela terceira vez, a biografia sobre o Tim Maia. Tal como Noites Tropicais, o livro é assinado magistralmente por Nelson Motta. Eu sempre fui fã do Tim Maia. Agora, então, virei de carteirinha.


Com todas as suas excentricidades, ele é exemplo claro de como os gênios morrem cedo: tinha 55 anos quando morreu. Mais do que Janis Joplin, John Lennon, Jimi Hendrix e Jim Morrison, Charlie Parker. Quem não lembra do clássico: “Mais retorno, mais eco, mais grave, mas side, mais agudo. Mais tudo”. Uma de suas marcas registradas.

A definição da vida de Tim dada por Motta deixa claro: que ficcionista seria capaz de criar um personagem como Tim Maia? E quem acreditaria? Isso é verdade, inegavelmente. Tim foi, nas palavras do escritor, o ser humano mais livre do mundo. Obedecia apenas a sua mãe, dona Maria Imaculada, a quem pedia benção todas as vezes em que tinha de viajar de avião, acompanhado, é obvio, de algumas garrafinhas de uísque 12 anos, seu preferido.

Conhecido por não aparecer em seus shows, ele brincava: “Tim Maia, o artista que mais comparece aos seus shows”, dizia, seguido de uma gargalhada inconfundível.

Talvez poucos saibam como surgiu o rótulo de síndico, popularizado na canção de Jorge Benjor, seu amigo de infância. Tim estava no auge da carreira e comprou um apartamento num bairro nobre do Rio de Janeiro.

Muito pesado, no alto de seus cento e tantos quilos, ele tinha medo de chegar até a sacada para ver o mar. Resolveu, então, trocá-la de lugar. Nesse mesmo local, Tim recém havia se mudado e percebeu que três caras rondavam o prédio. Chamou um de seus amigos, que lhe trouxe uma arma, e Tim começou a dar tiros pra todos os lugares. Os supostos meliantes foram embora.

Noutra oportunidade, ainda temendo por sua segurança e armado, viu pela sacada dois rapazes subindo numa escada. Não teve dúvidas: crivou-os de bala. Mais tarde descobriu que se tratava de funcionários da Telerj que faziam reparos na rede de telefonia. Final das contas: tiraram-lhe a arma, antes que ele e outras pessoas se ferissem. Daí o porquê do trecho da música: “Tira essa escada daí, eu vou chamar o síndico, Tim Maia”.

Outra história interessante – todas elas são, o livro todo é – aconteceu no verão de 1987. Com o Rio de Janeiro vivendo umas das maiores secas de maconha, Tim recebe uma ótima notícia: o cargueiro Solana Star, vindo da Tailândia, tinha encalhado em Angra dos Reis e liberado no mar 14 toneladas de maconha prensada, em latas de dois quilos.

As primeiras, logo na manhã, foram recolhidas por surfistas e pescadores do Arpoador. A notícia se espalhou rapidamente. A maconha que tinha praça era ruim e cara, e a da lata era a melhor que tinha já fumara. E muito mais barata. Rapidamente, Tim enviou um secretário com a missão de “comprar todas que tivesse”. Teve de se contentar com apenas seis quilos do produto. E comprou um binóculo.

Na varanda do apartamento, passava um bom tempo observando o mar da Barra e, caso visse alguma coisa brilhando, começava a gritar e seu ajudante, Zé Carlos, um dos muitos que teve, era enviado imediatamente à praia. Apesar da vigilância, nenhuma lata foi encontrada.

Estes são apenas alguns exemplos de sua vida regada a muito excesso, do qual Tim foi o rei, com todos os entendimentos que essa palavra possa suscitar: de talento, de peso, de genialidade, de drogas, de sexo, de bondade, de generosidade, de explosão e outras tantas mais.

No dia 15 de março deste ano (2008, quando o texto foi escrito), exatamente às 13h03, fará dez anos que o gordinho mais simpático da Tijuca se foi. Mas suas canções vibrantes, com sua voz de veludo, que estremecia onde entrava, continuarão a animar festas, bailes e casamentos de muitas gerações Brasil afora. E, como diz Caetano Veloso, “quero que tudo saia, como som de Tim Maia”.

Texto escrito e publicado no Jornal Minuano, de Bagé, em janeiro de 2008.

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