sexta-feira, 7 de maio de 2010

A nossa "Londres"

Toda as vezes que vou a Pelotas – e têm sido muitas nos últimos dois anos – percebo um ar meio europeu a pairar pela cidade. Nunca fui à Europa, que fique claro.
Quando falo da Europa, refiro-me a Londres, mais especificamente. Todos sabem que se trata da cidade mais úmida do mundo, ou uma das. Pois Pelotas, ao que sei, é tida como a segunda mais. As noites por aqui são meio londrinas. Esclareço: meu conhecimento de Londres vem dos filmes, livros, televisão, etc.
A diferença daqui pra lá é que até então aqui não apareceram Jacks estripadores ou lobisomens americanos. Menos mal. Até gosto de lobisomens, mas de retalhadores de gente, não. Se bem que ambos têm um quê de magia, mesmo que retratados para o mal. Ah, também não tenho notícia de Sherlok Holmes por essas bandas.
Voltemos à londrinidade de Pelotas. É uma sensação meio estranha andar pela cidade e ver aquela névoa rondando os espaços. Bonito, mas sombrio. As coisas parecem se esconder ou camuflar-se. Os rostos, todos, ganham contornos de uma áurea oculta. As pessoas andam como se estivessem sendo perseguidas.
Deve ser o lado negro do pensamento a imaginar os lobisomens ou estripadores. Ou, numa versão mais moderna, os nossos estupradores, assaltantes ou viciados em crack, querendo fazer as vezes de monstros de outrora. Sei é que as pessoas fogem. Andam acanhadas.
Os carros passam com seus vidros embaçados. Dão a impressão de terem nuvens por dentro. Cruzam as ruas desertas. As luzes nos postes ficam envoltas em um ar estático. É uma das poucas vezes em que se pode ver o ar. Espesso, quase tétrico.
A diferença noturna entre as duas cidades, porém, só guarda semelhança no clima. O resto é bem distinto. Pelotas é uma das cidades mais tradicionais do Rio Grande do Sul no que se refere à história do Estado, às charqueadas, as revoluções. Londres dispensa comentários: é uma das tradicionais do mundo, do novo e do velho.
Aqui, no entanto, criou-se nos últimos tempos a cultura de se ouvir pagode. Seja nos pubs, nas boates e etc. Lá, assim espero, ainda ouvem-se Beatles e Rolling Stones. A discrepância é absurda. A névoa que cai por aqui bem que poderia vir acompanhada de alguns costumes londrinos, musicalmente falando. Bem que ela poderia ser importada, digamos.
Sei que isso tudo é influência dos meios de comunicação, do mainstream, dos jabás, da cultura pop, etc e tal. Pouca gente, acredito, ainda escuta seus conterrâneos Kleiton e Kledir, Vitor Ramil, por exemplo. Não reverenciam mais a Pelotas de ontem, sem ser nostálgico e sectário. Não sabem mais a história do café Aquários do Satolep de Ramil ou dos Simões Lopes. Pelotas tornou-se a mesma coisa, mais do mesmo. Até um bar da cidade, que até por onde sei não toca músicas de gosto duvidoso, tem nome de Nova York.
A única relação com Londres, no final das contas, é que aqui ainda tem clima londrino e o português – como lá, o inglês - é falado com sotaque de antigamente.

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