segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um pobre homem

Não tenho preferências por cor de pele ou cabelo de mulher. Gosto delas, e ponto. De todas; sem distinção. Mas aquela loirinha arrasou meu coração. Tinha o andar leve; pernas finas, mas lindas; o olhar penetrante; seios avantajados; voz de veludo; corpo escultural. Hipnotizava-me a cada fitada. Caía a seus pés.


A beleza nela era algo singular. Toda vez que a via saltavam-me os olhos; sentia um misto de desejo com ternura; de paixão com devoção (não devoção cristã e nem de subserviência). E ela sabia disso. Aproveitava-se, inclusive. Pedia-me tudo; eu fazia mais um pouco. Sem pestanejar. Pode parecer loucura. Devia ser mesmo. De minha parte não havia razão, só emoção; não havia amor próprio, só amor a ela, e em dobro.

É nestas horas que se vê o poder das mulheres, o fascínio que elas podem causar num pobre homem. Sentia-me um pobre homem, de vez em quando: pobre por amá-la tanto; pobre por achar que não suportaria viver sem ela. E realmente, naquele momento, não conseguia. Havia algo de magnético, de astronômico. Quem sabe ela fosse a lua?

Nunca tendei entender o que se passava. Talvez não quisesse. Bastava-me estar ao seu lado; às vezes acordar ao seu lado; às vezes pensar que em algum momento estaria ao seu lado. Nunca fizemos planos. Apenas vivemos os momentos: bons e ruins, é claro. Mas ela me deixou. Foi embora sem sequer dar adeus. Nenhuma explicação, nenhuma divagação, nenhum “eu te amei, mas tive que ir”.

Aquela loirinha ainda povoa minha mente. Penso o que teria sido de mim se ainda estivesse com ela. Imagino filhos loirinhos correndo num quintal florescido; uma casa grande com vista para o mar e nós dois, apaixonados, banhando-nos num oceano qualquer; vivendo de amor, como em alguma história com final feliz e sem dos desprazeres da vida real.

Pensando bem, agora sem ela, com o passar dos anos me tornaria apenas um pobre homem, e velho, muito velho, porque teria amado mais do que deveria. Seria pior do que o mestre Gabriel García Márquez: ficaria sem as grandes obras para a posteridade e sem as memória das putas que nunca tive, mesmo que elas fossem tristes.

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